Carta Aberta

em apoio à licença-paternidade estendida no Brasil: a paternidade presente como estratégia de futuro.

Nós, que exercemos posições de liderança no Brasil, tornamos pública nossa certeza de que ampliar a licença‑paternidade para 30 dias é uma medida urgente, estratégica e amplamente viável para o país.

Vivemos uma crise silenciosa marcada pela violência, colapso da educação, crise de saúde mental e desestruturação familiar. Como lideranças, precisamos olhar além dos nossos negócios, pois o futuro da força de trabalho depende das escolhas que fazemos hoje, enquanto sociedade. Entre elas, destaca-se uma chave esquecida: o fortalecimento da presença paterna, hoje apontada por especialistas como uma peça fundamental para construção de um país mais justo, menos violento e mais próspero (CHAVES; CABRERA; COLEY, 2007; D’INVERNO, 2018; KHAN, 2020; PIZARRO, 2024).

Ampliar a licença-paternidade é uma das formas mais eficientes e de menor custo para estimular a participação paterna em escala. Dados de países que têm ao menos 60 dias de licença-paternidade demonstram que a licença-paternidade ampliada tem efeitos duradouros. Quando um pai participa ativamente do início da vida do seu bebê, ele constroi hábitos e vínculos mais fortes e permanece ativo no cuidado dos filhos ao longo da vida (BOLL, 2011). A neurociência já comprovou que o contato contínuo com o bebê provoca alterações cerebrais nos pais que os tornam mais afetuosos, pacientes e acolhedores (GORDON, 2010).

Esta política melhora a inteligência, o ajuste emocional, as relações sociais, o desempenho acadêmico e a saúde mental das crianças (RAEBURN, 2015.) Reduz o envolvimento com drogas, criminalidade juvenil,  comportamentos violentos, abandono escolar e gravidez precoce em meninas, assim como a sobrecarga materna. Aumenta a empregabilidade e produtividade das mães, elevando a condição financeira da família. (DA SILVA, 2023)

Nós apoiamos um modelo de licença financiada pelo Estado, assim como a licença maternidade. Afinal, homens já contribuem com o INSS assim como as mulheres. Este formato de financiamento viabilizará a ampla adoção da política pelos empregadores. Por sua vez, nós empregadores, faremos a nossa parte, adaptando o planejamento de alocação de recursos humanos durante a ausência dos pais no trabalho. Os ajustes na operação serão baixos, considerando a taxa de fecundidade atual de apenas 1,6 filhos por mulher no Brasil. Empresas com políticas parentais amplas têm maior engajamento, retenção, produtividade e até 93% mais chance de desempenho financeiro acima da média (Boston Consulting Group, 2017)

Os custos do Estado com a ampliação da licença devem ser vistos como um investimento, com a redução de custos importantes e aumento de produtividade para a economia. Segundo o Nobel de Economia, James Heckman, investir no desenvolvimento da primeira infância gera a maior taxa de retorno social e econômico que uma nação pode fazer. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico estima que políticas de apoio às famílias podem elevar o PIB per capita em até 20% no longo prazo (OCDE, 2025).

Para um Brasil mais seguro, menos desigual e mais próspero, precisamos enfrentar as causas profundas dos nossos desafios, e não apenas os sintomas. Chegou a hora de transformar um direito negligenciado em uma política estruturante para o país. 

Paternidade presente é uma questão de futuro para as famílias, para a economia, para o Brasil.

Assinam esta carta

• Paula Lindenberg, Presidente da Diageo no Brasil
•⁠  Cesar Carvalho, CEO e Cofounder, Wellhub
•⁠  ⁠Pedro Pittella, People Director Brazil - Sanofi
•  Suzana Kubric, CHRO - Nubank
•⁠  ⁠Juliana Sztrajtman, Country Manager - Amazon
•⁠  ⁠Daniel Mazini, Global VP Partnerships & New Ventures - Wellhub
•⁠  ⁠Leandro Bazello, Diretor Geral - MAM Baby
•⁠  ⁠Renato David Machado Ferreira Lima, Diretor - Beertopia Import
•⁠  ⁠Thiago Coelho, Diretor Geral - Estrella Galicia do Brasil
•⁠  ⁠Lucas Fornaza Barhum, CEO & Fundador - DUX Company S.A.
•  Natalia Paiva, CEO - MOVER
•⁠  ⁠Vitor Levindo Pedreira, CEO - Linda de Morrer
•⁠  ⁠Roberto Publio, CEO - Escola Atemporal
•  Margareth Goldenberg, Gestora Executiva - Movimento Mulher 360
•⁠  ⁠Cynthia Maria Cirillo Jobim, Consultora - JLC Consultoria
•⁠  ⁠Andrea Menezes, Sócia - Menezes & Associados
•  Leandro Crespo Ziotto, CEO - 4daddy
•  Silvia Luz, Diretora Executiva - Social Good Brasil 
•  Caio Magri, Presidente Instituto Ethos de Empresas - Responsabilidade Social
•  Pedro Ivo Viana Moura, Presidente do Conselho de ADM - Grupo Viana e Moura
•  Eliane Monteiro Pereira, Head of Human Resources Brazil - Takeda Distribuidora LTDA.
•  Soraya Borges dos Santos, Sócia Diretora - Senses Aprendizagem
•  Ian Black, CEO - New Vegas
• Raffaella Nunes Bottini Vieira, Head America Latina - TikTok
• Renata Serpa
• Natália Monteiro Roxo Lustre, autônoma
•  Valéria Curvêlo Barbosa, Recepcionista - Smart Fit
• Jomaley Moba Lins, Engenheiro Civil - Paviplan Pavimentação Ltda
• João Fernando Texeira Paulo, Auxiliar de almoxarifado - Fábrica Gráfica
•  Julia Paranhos, Professora - UFRJ
• Claudia Gomes Rodrigues, Maquiadora - autônoma
• Juliana Batista Oliveira, Analista administrativo - Metalúrgica Paiçandu
• Samara Felippo Santana, Atriz e apresentadora
• Pedro Enrique Volpatto Fagundes, Gestor de Investimentos - Newfoundland Capital Management
• Marcelo Ferreira Barros, Analista de Custos - Unimed

Referências

BOLL, C.; LEPPIN, J.; REICH, N. Einfluss der Elternzeit von Vätern auf die familiale Arbeitsteilung im internationalen Vergleich. 2011. Disponível em: https://www.econstor.eu/bitstream/10419/54735/1/682945986.pdf. Acesso em: 14 nov. 2023.
CABRERA, N.; SHANNON, J.; TAMIS-LEMONDA, C. Fathers’ influence on their children’s cognitive and emotional development: from toddlers to Pre-K. Applied Developmental Science, v. 11, p. 208–213, 2007.
CARLSON, M. J.; MAGNUSON, K. A. Low-income men and fathers' influences on children. Annals of the American Academy of Political and Social Science, v. 635, p. 95–116, maio 2011. DOI: 10.1177/0002716210393853. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC42266521/. Acesso em: 27 nov. 2023.
CHAVES, R. G.; LAMOUNIER, J. A.; CÉSAR, C. C. Fatores associados com a duração do aleitamento materno. Jornal de Pediatria, v. 83, p. 241–246, 2007.
COLEY, R. L.; MEDEIROS, B. L. Reciprocal longitudinal relations between nonresident father involvement and adolescent delinquency. Child Development, v. 78, n. 1, p. 132–147, 2007.
D’INVERNO, A. S.; REIDY, D. E.; KEARNS, M. C. Preventing intimate partner violence through paid parental leave policies. Preventive Medicine, v. 114, p. 18–23, 2018.
DA SILVA, C. P.; SOUZA, R. C.; DOS SANTOS RODRIGUES, J. L. Interfaces da licença-paternidade no contexto familiar e social: revisão bibliográfica. Revista Sociais e Humanas, v. 36, p. e68028, 2023.
DICKENS, M.; MANGINO, K. Como a licença paternidade ajuda o cérebro dos pais a se adaptar à paternidade. Harvard Business Review, 15 nov. 2023. Disponível em: https://hbr.org/2023/11/how-paternity-leave-helps-dads-brains-adapt-to-parenting. Acesso em: 30 nov. 2023.
EARLE, A.; RAUB, A.; SPRAGUE, A.; HEYMANN, J. Progresso em direção à igualdade de gênero na licença parental remunerada: uma análise da legislação em 193 países de 1995 a 2022. Comunidade, Trabalho e Família, 2023. DOI: 10.1080/13668803.2023.2226809.
FREITAS, C. The top benefits of paid parental leave for employers. KBI Benefits, 14 ago. 2024. Disponível em: https://www.kbibenefits.com/the-top-benefits-of-paid-parental-leave-for-employers. Acesso em: 8 abr. 2025.
GOLDIN, C. Understanding the gender gap: an economic history of American women. New York: Oxford University Press, 1990. Disponível em: https://archive.org/details/understandinggen0000gold/page/n5/mode/2up. Acesso em: 16 nov. 2023.
GORDON, I.; ZAGOORY-SHARON, O.; LECKMAN, J. F.; et al. Oxytocin and the development of parenting in humans. Biological Psychiatry, v. 68, n. 4, p. 377–382, 2010.
HECKMAN, J. J. The lifecycle benefits of an influential early childhood program. Heckman Equation, 2017. Disponível em: https://heckmanequation.org/wp-content/uploads/2017/01/D_Heckman_FMCSV_ReduceDeficit_012215.pdf. Acesso em: 30 nov. 2023.
INSTITUTO PROMUNDO. Situação da paternidade no Brasil. Rio de Janeiro: Promundo, 2016. Disponível em: https://promundo.org.br/wp-content/uploads/2016/10/relatorio_paternidade_03b_baixa-1.pdf. Acesso em: 8 abr. 2025.
KHAN, M. S. Paid family leave and children health outcomes in OECD countries. Children and Youth Services Review, v. 116, p. 105259, 2020.
MACHADO, C.; PINHO NETO, V. R. The labor market consequences of maternity leave policies: evidence from Brazil. 2016.
NEW AMERICA. Paid family leave: how much time is enough?: economic impact. Better Life Lab, 2025. Disponível em: https://www.newamerica.org/better-life-lab/reports/paid-family-leave-how-much-time-enough/economic-impact/. Acesso em: 16 mar. 2025.
OCDE. Is the last mile the longest? Economic gains from gender equality in Nordic countries. Paris: OECD Publishing, 2018. (Gender Equality at Work). Disponível em: https://doi.org/10.1787/9789264300040-en. Acesso em: 3 abr. 2025.
PETTS, R. J.; KNOESTER, C. Paternity leave and parental relationships: variations by gender and mothers' work statuses. Journal of Marriage and the Family, v. 81, n. 2, p. 468–486, 2019. DOI: 10.1111/jomf.12545.
PIAZZALUNGA, C. R. C.; LAMOUNIER, J. A. O contexto atual do pai na amamentação: uma abordagem qualitativa. Revista Médica de Minas Gerais, 2011.
PINHEIRO, L.; GALIZA, M.; FONTOURA, N. Novos arranjos familiares, velhas convenções sociais de gênero: a licença-parental como política pública para lidar com essas tensões. Revista Estudos Feministas, v. 17, n. 3, p. 851–859, 2009.
PIZARRO, J.; GARTZIA, L. Paternity leave: a systematic review and directions for research. Human Resource Management Review, v. 34, n. 1, p. 101001, 2024.
RAEBURN, P. O novo papel do pai: a ciência desvenda o impacto da paternidade no desenvolvimento dos filhos. Rio de Janeiro: HarperCollins, 2015.
RIBEIRO, I. L. Licenças maternidade e paternidade: um estudo comparativo entre o Brasil e a Suécia. 2018.
SARKADI, A.; KRISTIAMSSON, R.; OBERKLAID, F.; BREMBERG, S. Fathers' involvement and children's developmental outcomes: a systematic review of longitudinal studies. Acta Paediatrica, v. 97, n. 2, p. 153–158, 2008. DOI: 10.1111/j.1651-2227.2007.00572.x. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18052995/. Acesso em: 17 nov. 2023.
SILVA, M. R.; PICCININI, C. A. Paternidade no contexto da depressão pós-parto materna: revisando a literatura. Estudos de Psicologia (Natal), v. 14, p. 5–12, 2009.
SILVEIRA, F. J. F.; LAMOUNIER, J. A. Fatores associados à duração do aleitamento materno em três municípios na região do Alto Jequitinhonha, Minas Gerais, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 22, n. 1, p. 69–77, 2006. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2006000100008. Acesso em: 8 abr. 2025.
THOMÉ, C. F. A licença-paternidade como desdobramento da igualdade de gênero: um estudo comparativo entre Brasil e Espanha. 2009.